Gravado no final de 2018 no corredor de uma capela, para que a voz ganhasse efeitos mais naturais, Whole New Mess é o quinto disco da Angel Olsen, lançado pela Jagjaguwar no dia 28 de agosto. Ele é traz as canções do disco anterior, o elogiado All Mirrors, de 2019, mas em um formato mais intimista.
As músicas foram escritas em um período difícil para a artista, onde ela passava por um término de relacionamento. Por isso a roupagem delicada e melancólica, mas sem parecer meloso.
Em certos momentos, Whole New Mess lembrou o Nebraska (1982), do Bruce Springsteen, devido à abordagem simples e crua das canções.
É um disco que tenho ouvido do início ao fim por várias vezes durante o dia e sem enjoar.
Loucura. Demência. Alucinação. Colapso mental. Breakdown. Etc.
O termo é o de menos, mas as causas são das mais variadas. A arte, que imita a vida, traz bons reflexos de tal condição.
No cinema, são inúmeros os filmes que retratam a insanidade do ser humano. Rambo ficou perturbado após vivenciar uma guerra, assim como o Capitão Benjamin L. Willard em Apocalypse Now. A perda de um ente querido destruiu a mente de Andrew Laeddis em Ilha do Medo, enquanto a solidão colaborou com a paranoia tanto de Travis Bickle, em Taxi Driver, quanto de Jack Torrance, de O Iluminado.
Na música, David Crosby deu piripaque após perder sua namorada Christine Hinton em um acidente de carro, anos antes de descarregar suas angústias em If I Could Only Remember My Name, seu primeiro trabalho solo, em 1971. Sua condição era tão assustadora que o nome do disco é referência ao estado mental do cidadão: em alguns momentos, ele não conseguia nem se lembrar do próprio nome.
Já Skip Spence, ex-guitarrista do Moby Grape, chegou a atacar seus colegas de banda com um machado durante uma viagem lisérgica. Com o abuso de drogas e seu estado mental cada vez mais degradando, Skip foi internado numa clínica e lá gravou seu único trabalho solo, Oar, em 1969, um dos discos mais deprimentes e honestos que já ouvi.
Outras citações são apenas metafóricas, mas não menos importantes. Humberto Gessinger admite ouvir vozes, que certas vezes o assusta, e noutras, o atraem, em “Vozes” (A Revolta dos Dândis, 1987).
Já Robert Pollard… Bem, esse é guiados por vozes há mais de três décadas com o seu Guided By Voices, um dos pilares e mais importantes grupos do rock alternativo noventista.
Mas é nas artes gráficas a história de deterioração mental mais perturbadora e bem escrita que conheço. A tortura psicológica que o Coringa faz com o Comissário Gordon em A Piada Mortal (1988), cuja conclusão é perfeita:
“Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático. É essa a distância que me separa do mundo. Apenas um dia ruim.”
Apenas um dia ruim e a nossa vida entra em colapso.