Em meu gosto particular, a melhor canção do clássico disco da banana do Velvet Underground com a Nico chama-se “Venus In Furs“. Cada arranhão que aquele violino solta durante a canção é um pelo que se arrepia em meu corpo.
Por curiosidade, pesquisei no Youtube por alguma versão cover da música (para ver se eu conseguia tirar ela para tocar) e me surpreendi com a quantidade de artistas que a regravaram. Da versão meio club do Dave Navarro (a única que eu conhecia), passando pelo trap e até pelo stoner rock, deixo abaixo algumas para o leitor conferir.
Difícil imaginar quais rumos seriam tomados pelo Red Hot Chili Peppers após John Frusciante sair da banda pela primeira vez, em 1992. A exaustão das viagens e o vício em drogas o deixaram em pânico, e John abandonou seus companheiros antes do fim da turnê de divulgação do aclamado “Blood Sugar Sex Magik”, lançado um ano antes.
Para encontrar um novo guitarrista, a banda publicou um informativo em um jornal, porém sem sucesso. Chad Smith, então, sugeriu Dave Navarro, ex-guitarrista do Jane’s Addiction (e um dos que mais admiro), e o convite foi feito. Depois de um tempo e algumas jam sessions, ele foi aceito. A partir desse momento, dava-se início à criação e produção do trabalho que é considerado um ponto fora da curva na discografia do Red Hot Chili Peppers, renegado pela própria banda, pela crítica (qual é o papel da crítica?) e até por alguns fãs.
Em meio a ensaios turbulentos, falta de entrosamento com o novo guitarrista, lapso criativo e problemas com drogas do vocalista Anthony Kiedis, “One Hot Minute” foi lançado no ano de 1995.
“I can’t find the love I want. Someone better slap me Before I start to rust, Before I start to decompose.”
As performances excêntricas e temáticas sexuais misturadas com o típico som funkydos discos anteriores deram lugar a uma atmosfera mais sombria, letras confessionais abordando temas como morte, depressão e abuso de drogas. Além disso, o som ficou mais pesado, devido às influencias de heavy metal e classic rock de Dave Navarro.
“I remember… 10 years ago in Hollywood We did some good and we did some real bad stuff.”
Em meio a esse caos, duas belas baladas saíram do forno e são momentos marcantes no decorrer do disco.
“Tearjerker” é uma linda homenagem a Kurt Cobain, ex-líder do Nirvana, cuja morte foi muito sentida por Anthony Kiedis. Já “My Friends”, minha favorita em todo o álbum, é um lamento pelas dificuldades, mas, ao mesmo tempo, uma tentativa de conforto para esses momentos de catástrofe. Ambas as músicas são os momentos mais vulneráveis de Kiedis, e percebe-se isso em sua voz.
“You never knew this, But I wanted badly for you to Requite my love.”
“Imagine me Taught by tragedy. Release is peace.”
Outro ponto positivo em relação ao “One Hot Minute” é uma bela ironia que o destino o concedeu. Falei acima que o som funky foi praticamento deixado de lado, mas é nesse álbum que está aquela que considero a música mais funky do Red Hot Chili Peppers, “Walkabout”. É impossível não se contagiar com a guitarra de Navarro nessa canção. É um momento onde, aparentemente, toda a tensão que os contornava é esquecida.
“Just me and my own two feet In the heat I’ve got myself to meet.”
Mais de vinte anos depois do lançamento, nunca mais se viu o Red Hot Chili Peppers em um estado tão fragilizado e vulnerável. Se você assistir algumas apresentações da época, percebe-se nitidamente a áurea negativa que os sondava, especialmente no semblante de Kiedis.
Mais tarde, Navarro seria despedido da banda por “diferenças criativas” e John Frusciante retornaria. A partir daí, o filme já é conhecido. Porém, é importante lembrar essa fase sombria que a banda enfrentou e dar o merecido valor a esse grande trabalho que foi (e ainda é) “One Hot Minute”. Portanto, pegue uma cadeira, sente-se e aprecie o seu “minuto quente”. Ah, e peça um café também.
*Texto publicado hoje no blog da Immagine, dia 15 de setembro de 2017. Link aqui.